terça-feira, 20 de maio de 2008

MÉTODO SOCRÁTICO

O método socrático consiste numa prática muito famosa de Sócrates, o filósofo, em que, utilizando um discurso caracterizado pela maiêutica e pela ironia, levava o seu interlocutor a entrar em contradição, tentando depois levá-lo a chegar à conclusão de que o seu conhecimento é limitado.

É atribuído a Sócrates, o grande filósofo grego do século IV AEC/A.C., devido ao seu uso constante, registrado nos livros de Platão.

O Método Socrático é uma abordagem para geração e validação de idéias e conceitos baseada em perguntas, respostas e mais perguntas.

Também conhecido como Maiêutica: "É o método que consiste em parir idéias complexas a partir de perguntas simples e articuladas dentro dum contexto."

Sócrates nada de escrito deixou para que a posteridade pudesse conhecer seu pensamento. O que se sabe a respeito dele vem de discípulos e admiradores, que o exaltam (principalmente Platão e Xenofonte) ou de adversários, que o satirizam (principalmente Aristófanes). Quem mais nos fala sobre ele é mesmo Platão, seu discípulo, que narra os diálogos de seu mestre pelas ruas e praças de Atenas. É até difícil distinguir o que é pensamento de Sócrates do que é teoria de Platão na boca de Sócrates. Para ter mais segurança, é sempre bom comparar as diversas fontes para se chegar pelo menos mais próximo do Sócrates histórico.

Sócrates era um homem público e simples. É assim que acontecem as narrativas de Platão, nos diálogos cotidianos de seu mestre com interlocutores diversos. Como Sócrates não cobrava por seu ofício, conversava com pessoas de qualquer classe sócio-econômica. No entanto, não conversava sobre qualquer coisa, mas só sobre um assunto sobre o qual quisesse demonstrar a ignorância do interlocutor a respeito. Sua “filosofia de vida” é o que estava escrito no Oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. A partir daí, ele sempre confessava a própria ignorância: “Só sei que nada sei”. Assim, confessando-se ignorante a respeito dos assuntos que os outros se julgavam sábios, era ele mesmo, Sócrates o mais sábio, pois os outros, julgando saber, na verdade não sabiam; ele, ao contrário, reconhecia isso.

Em seus diálogos, o reconhecimento da própria ignorância era parte essencial para se chegar à apreensão da Idéia e à construção dos conceitos. Era necessário mostrar a seus interlocutores o quanto estavam errados em seus “pré-conceitos” e “pré-juízos”. Num primeiro momento, Sócrates fazia a sondagem daquilo que se pretendia saber em relação ao assunto em questão. Através de perguntas Sócrates conduzia o diálogo até o ponto em que o outro ficava embaraçado por ver seus conceitos serem derrubados um a um. Essa é a ironia socrática, que Kierkergaard reconhece ser mesmo Sócrates o iniciador na história do pensamento. Ao contrário do conceito atual de ironia, na etimologia ela significa pergunta. Era justamente isso que Sócrates fazia com o homem de Atenas.

A segunda etapa do método de Sócrates consiste na construção de conceitos novos a partir das cinzas dos antigos que foram destruídos. É a maiêutica. Esse nome é derivado e em homenagem à profissão de sua mãe, que era parteira. Sócrates queria exatamente isto: que a alma de seus discípulos parisse as idéias, posto que elas já estavam todas lá. Esse inatismo socrático se justifica na teoria da reminiscência. Para Sócrates, a alma antes de encarnar estava em contemplação do belo, do bem e da verdade suprema. Lá, no hiperurâneo, o mundo das idéias (ou mundo inteligível) a alma já tinha o conhecimento perfeito. Para atingir esse conhecimento aqui na terra era preciso superar os sentidos que nos sugerem apenas o mundo sensível e fazer a alma recordar as idéias das quais já tinha conhecimento no mundo das Idéias e nas encarnações anteriores. Assim, através de seus diálogos mostrava a ignorância de seus interlocutores para em seguida mostrar-lhes a verdade que pretendiam possuir. Isso era a filosofia para Sócrates.

A filosofia é, pois, mais que uma doutrina. É um guia e caminha certo para se sair da ignorância e do erro. É a luz para mostrar as coisas como o são, para abrir os olhos do “sábio” ao Bem, ao Belo, à Verdade. Considerando, assim, a ignorância como vício e o conhecimento como virtude, pode-se acusar de intelectualista a ética socrática. Entretanto, deve-se ter em mente que Sócrates amava sua cidade e queria era preparar seus discípulos para a vida da Pólis na política. Não queria formar homens sábios segundo o conceito sofista, mas filósofos que realmente fosse capazes de bem conduzir a própria vida e a vida da pólis.

CONCLUSÃO

Ao se analisar mais de perto e com um olhar mais acurado a obra de Sócrates – se e que se pode chamá-la obra – pode-se perceber que o que Sócrates queria para si e para seus discípulos e interlocutores diversos era a descoberta da Verdade. Não possuí-la e agir como se a possuísse, pretendendo saber o que não se sabe era ignorância. A filosofia vinha, então, para reparar o vício da ignorância e, assim, restabelecer à alma da pessoa a virtude que contemplava antes, recordando-lhe a ciência, que é justamente o conhecimento da Verdade, saindo das trevas da caverna do erro e da presunção.

Isso não deixou se incomodar muita gente. Pois, ensinando isso aos jovens, Sócrates foi acusado de corromper a juventude, pois contrariava a orDem vigente. Ele era, aliás, uma contradição para a sociedade de sua época, a começar por sua aparência física que ia bem de encontro ao ideal de beleza apolínica. Entretanto, mesmo condenado injustamente, ele manteve-se coerente e fiel: a si, as suas idéias, a seus discípulos e mesmo à sua cidade, que tanto amava.

SÓCRATES

Sócrates, em grego antigo Σωκράτης [Sōkrátēs], (470 a.C.399 a.C.) foi um filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental e um dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são Platão, Xenofonte e Aristóteles (Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria.). Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre que se recusa a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia se escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das idéias (Fedro) dos cidadãos de Atenas, mas era indiferente em relação a seus próprios filhos.

O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação (beber o veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da vida justa. Mesmo depois de sua condenação, ele poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos. A razão para sua cooperação com a justiça da Polis e com seus próprios valores mostra uma valiosa faceta de sua filosofia, em especial aquela que é descrita nos diálogos com Críton.

Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há evidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicado alguma obra. As obras de Aristófanes retratam Sócrates como um personagem cômico e sua representação não deve ser levada ao pé da letra.

Sócrates casou-se com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve três filhos: Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus. Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando ele se recusou a tentar escapar antes de sua execução, mostrando que ele (assim como seus outros discípulos), parece não ter entendido a mensagem que Sócrates tenta passar sobre a morte (diálogo Fédon), antes de ser executado.

Não se sabe ao certo qual o trabalho de Sócrates, se é que houve outro além da Filosofia. De acordo com algumas fontes, Sócrates aprendeu a profissão de oleiro com seu pai. Na obra de Xenofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: maiêutica, o parto das idéias. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista.

Várias fontes, inclusive os diálogos de Platão, mencionam que Sócrates tinha servido ao exército em várias batalhas. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine que ele deveria se retirar da filosofia deveria também imaginar que os soldados devessem bater em retirada quando era provável que pudessem morrer em uma batalha.

Algumas curiosidades: Sócrates costumava caminhar descalço e não tinha o hábito de tomar banho. Em certas ocasiões, parava o que quer que estivesse fazendo, ficando imóvel por horas, meditando sobre algum problema. Certa vez o fez descalço sobre a neve, segundo os escritos de Platão, o que demonstra o caráter legendário da figura Socrática.

Idéias filosóficas

As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucas diferenças entre as duas idéias filosóficas. Conseqüentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa difícil e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensamento dos outros autores.

Se algo pode ser dito sobre as idéias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acredita na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo Apologia, a defesa do logos apolíneo "conhece-te a ti mesmo". Sócrates também duvidava da idéia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates freqüentemente diz que suas idéias não são próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas.

Conhecimento

Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada a sua própria ignorância (Só sei que nada sei.). Ele acreditava que os atos errados eram conseqüência da própria ignorância. Nunca proclamou ser sábio.

Virtude

Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou sua sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas. Política

Diz-se que Sócrates acreditava que as idéias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Se opunha à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época. Acreditava que a perfeita república deveria ser governada por filósofos. Acreditava também que os tiranos eram até mesmo mais legítimos que a democracia.

Diálogos

Os diálogos socráticos são uma série de diálogos escritos por Platão e Xenofonte na forma de debates entre Sócrates e outras pessoas de sua época; ou mesmo debates entre Sócrates e seus seguidores (como Fédon). A Apologia de Sócrates é um monólogo, agrupado junto com os diálogos. A Apologia (no direito grego, uma defesa) é um registro do discurso que Sócrates proferiu em seu julgamento. A maioria dos diálogos aplica o método socrático.

OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS

Os filósofos pré-socráticos são, como sugere o nome, os filósofos anteriores a Sócrates ( ou anteriores a Platão, já que alguns filósofos afirmam só poder falar de Sócrates, por ele nunca ter deixando nada escrito de sua autoria, como um personagem de Platão).

Essa divisão acontece devido ao objeto da filosofia destes filósofos e da novidade introduzida por Sócrates. Temporalmente, os Sofistas são anteriores a Sócrates, pois já havia sofistas antes de Sócrates, contemporâneos a ele e posteriores. Mas o pensamento deles situa-se em uma categoria própria em certas vezes, e relacionados a Sócrates noutras vezes. Isso porque o pensamento de ambos (sofistas e Sócrates) chega a tocar-se muitas vezes; suas diferenças consistem em questões de conduta (os sofistas cobravam por seu ensinamento, por exemplo) e algumas posições (os sofistas eram, no mais das vezes, relativistas, por exemplo). Mas ambos representam uma certa ruptura com os pré-socráticos, que são também chamados de filósofos da physis.

Tais filósofos, considerados pioneiros da filosofia ocidental, buscavam um princípio, a arché, que deveria ser um princípio presente em todos os momentos da existência de tudo. Essa arché deveria estar no início, no desenvolvimento e no fim de tudo.

São chamados "da physis" porque suas investigações giravam sempre em torno do mundo material, físico; embora não poucas vezes o arché fosse algo não-físico, como os números, para os pitagóricos, ou o a-peiron (uma "coisa" incriada e sem um começo), para Anaximandro.

Os principais filósofos pré-socráticos (e suas escolas) foram:

Escola Jônica

Tales de Mileto (624-548 a.C.)

Primeiro filósofo Milesiano. Tales foi comerciante de sal, azeite e oliva e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um eclipse ocorrido em 585 a.C. De suas idéias quase nada é conhecido. Aristóteles o chama de fundador da filosofia, e lembra que a sua doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as coisas (physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno.

Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à idéia de que o imã tem vida, porque move o ferro. Essa afirmação representa não um retorno a concepções míticas, mas simplesmente a idéia de que o universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo). Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos (exemplo: teorema de Pitágoras). Tales viajou por várias regiões, inclusive o Egito, onde, segundo consta, calculou a altura de uma pirâmide a partir da proporção entre sua própria altura e o comprimento de sua sombra: essa proporção é a mesma que existe entre a altura da pirâmide e o comprimento da sombra desta. Esse cálculo exprime o que, na geometria, até hoje se conhece como teorema de Tales.

Tales foi um dos filósofos que acreditava que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué. Para Tales, o arqué seria a água. Tales observou que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. Com essa afirmação deduz-se que a existência singular não possui autonomia alguma, apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular é passageira, modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento. Tales com essa afirmação queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.

Principais fragmentos:

  • “... a água é o princípio de todas as coisas...”.
  • “... todas as coisas estão cheias de deuses...”.
  • “... a pedra magnética possui um poder porque move o ferro..."

Anaximandro de Mileto (611-547 a.C.)

Milesiano. Para ele a Physis era o apeiron (o ilimitado ou o indeterminado). Anaximandro viveu em Mileto no século VI a.C.. Foi discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro achava que nosso mundo seria apenas um entre uma infinidade de mundos que evoluiriam e se dissolveriam em algo que ele chamou de ilimitado ou infinito. Não é fácil explicar o que ele queria dizer com isso, mas parece claro que Anaximandro não estava pensando em uma substância conhecida, tal como Tales concebeu. Talvez tenha querido dizer que a substância que gera todas as coisas deveria ser algo diferente das coisas criadas. Uma vez que todas as coisas criadas são limitadas, aquilo que vem antes ou depois delas teria de ser ilimitado.

E evidente que esse elemento básico não poderia ser algo tão comum como a água. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas - o arqué - não era algo visível; era uma substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários. Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível.

Esse filósofo foi o iniciador da astronomia grega. Foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico totalmente. De acordo com ele para que o vir-a-ser não cesse, o ser originário tem de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser. O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno.

Principais fragmentos:

  • “... o ilimitado é eterno...”
  • “... o ilimitado é imortal e indissolúvel...”

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.)

O terceiro filósofo de Mileto foi Anaxímenes (c. 570—526 a.C.). Ele pensava que a origem de todas as coisas teria de ser o ar ou o vapor. Anaxímenes conhecia, claro, a teoria da água de Tales. Mas de onde vem a água? Anaxímenes acreditava que a água seria ar condensado. Acreditava também que o fogo seria ar rarefeito. De acordo com Anaxímenes, por conseguinte, o ar("pneuma") constituiria a origem da terra, da água e do fogo.


Conclusão - Os três filósofos milésios acreditavam na existência de uma substância básica única, que seria a origem de todas as coisas. No entanto, isso deixava sem solução o problema da mudança. Como poderia uma substância se transformar repentinamente em outra coisa? Os eleatas A partir de cerca de 500 a.C., quem se interessou por essa questão foi um grupo de filósofos da colônia grega de Eléla, no sul da Itália, por isso conhecidos como eleatas

Parmênides de Eléia

O mais importante dos filósofos eleatas foi Parmênides (c. 2000-5000 a.C.). “Nada nasce do nada, e nada do que existe se transforma em nada”. Com isso quis dizer que “tudo o que existe sempre existiu”. Sobre as transformações que se pode observar na natureza... ”Achava que não seriam mudanças reais”. De acordo com ele, nenhum objeto poderia se transformar em algo diferente do que era. Início do racionalismo Percebia, com os sentidos, que as coisas mudam. Mas sua razão lhe dizia que logicamente impossível que uma coisa se tornasse diferente e, apesar disso, permanecesse de algum modo a mesma. Quando se viu forçado a escolher entre confiar nos sentidos ou na razão, escolheu a razão. Essa inabalável crença na razão humana recebeu o nome de racionalismo. Um racionalista é alguém que acredita que a razão humana é a fonte primária de nosso conhecimento do mundo.

Heráclito

Um contemporâneo de Parmênides foi Heráclito (c. 540-480 a.C.), que era de Éfeso, na Ásia Menor. Heráclito propunha que a matéria básica do Universo seria o fogo. Pensava também que a mudança constante, ou o fluxo, seria a característica mais elementar da Natureza. Podemos talvez dizer que Heráclito acreditava mais do que Parmênides naquilo que percebia. Tudo flui, disse Heráclito. Tudo está em fluxo e movimento constante, nada permanece. Por conseguinte, “não entramos duas vezes no mesmo rio”. Quando entro no rio pela segunda vez, nem eu nem o rio somos os mesmos.

Problema: Parmênides e Heráclito defendiam dois pontos principais diametralmente opostos. Parmênides dizia:

  • a) nada muda,
  • b) não se deve confiar em nossas percepções sensoriais.

Heráclito, por outro lado, dizia:

  • a) tudo muda (“todas as coisas fluem”), e
  • b) podemos confiar em nossas percepções sensoriais.

Quem estava certo? Coube ao siciliano Empédocles (c. 490-430 a.C.) indicar a saída do labirinto.

Como estudioso da physis, Heráclito acreditava que o fogo era a origem das coisas naturais.

Empédocles

Ele achava que os dois estavam certos:

  • 1. A água não poderia, evidentemente, transformar um peixe em uma borboleta. Com efeito, a água não pode mudar. Água pura irá continuar sendo água pura. Por isso, Parmênides estava certo ao sustentar que “nada muda”.
  • 2. Mas, ao mesmo tempo, Heráclito também estava certo em achar que devemos confiar em nossos sentidos. Devemos acreditar naquilo que vemos, e o que vemos é precisamente que a Natureza muda.
  • 3. Solução - Empédocles concluiu que o que precisava ser rejeitado era a idéia de uma substância básica única. Nem a água nem o ar sozinhos podem se transformar em uma roseira ou uma borboleta. Não é possível que a fonte da Natureza seja um único “elemento”. Empédocles acreditava que a Natureza consistiria em quatro elementos, ou “raízes”, como os denominou. Essas quatro raízes seriam a terra, o ar, o fogo e a água.

A - Como ou por que acontecem as transformações que observamos na natureza?

  • 1. todas as coisas seriam misturas de terra, ar, fogo e água, mas em proporções variadas. Assim as diferentes coisas que existem seriam os processos naturais gerados pela aproximação e à separação desses quatro elementos.
  • 2. Quando uma flor ou um animal morrem, disse Empédocles, os quatro elementos voltam a se separar. Podemos registrar essas mudanças a olho nu. Mas a terra e o ar, o fogo e a água permaneceriam eternos, “intocados” por todos os componentes dos quais fazem parte. Dessa maneira, não é correto dizer que “tudo” muda.
  • 3. Basicamente, nada mudaria. O que ocorre é que os quatro elementos se combinariam e se separariam - para se combinarem de novo, em um ciclo. B - O que faria esses elementos se combinarem de tal modo que fizessem surgir uma nova vida? E o que faria a “mistura”, digamos, de uma flor se dissolver de novo? Empédocles pensava que haveria duas forças diferentes atuando na Natureza. Ele as chamou de amor e discórdia. Amor uniria as coisas, a discórdia as separaria.

Demócrito e a Teoria Atômica

Para Demócrito, as transformações que se pode observar na natureza não significavam que algo realmente se transformava. Ele acreditava que todas as coisas eram formadas por uma infinidade de “pedrinhas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna, imutável e indivisível“. A estas unidades mínimas deu o nome de ÁTOMOS. Átomo significa indivisível, cada coisa que existe é formada por uma infinidade dessas unidades indivisíveis. “Isto porque se os átomos também fossem passíveis de desintegração e pudessem ser divididas em unidades ainda menores, a natureza acabaria por diluir-se totalmente”. Exemplo: se um corpo – de uma árvore ou animal, morre e se decompõe, seus átomos se espalham e podem ser reaproveitados para dar origem a outros corpos.

Talvez pudéssemos comparar o átomos as peças de um jogo chamado LEGO, que possuem ganchos e engates, permitindo que sejam combinadas para construção de diferentes figuras. Tais ligações podem ser desfeitas e reaproveitadas para construção de novos objetos (carros, castelos, casas, etc). A teoria atômica atual é muito semelhante a de Demócrito, pois diz que a natureza é composta de diferentes átomos que se juntam para criar, se separam e voltam a se reunir para criar novas coisas.

Alem disso, a ciência descobriu que os átomos podem ser divididos em partículas menores chamadas de PRÓTONS, NÊUTRONS E ELÉTRONS. Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa época. Sua única ferramenta foi a razão, esta lhe dizia que “nada surge do nada e nada desaparece, então a natureza tem de ser composta por pecinhas minúsculas que se combinam e depois se separam”. Demócrito concordava com Heráclito em que tudo na natureza ”flui”, pois as formas vão e vêm. Por detrás de tudo o que flui, porém, há algo de eterno e de imutável, que não flui,o átomo. Até este momento os filósofos haviam encontrado a solução para os problemas do “elemento básico e das transformações”, usando para isto apenas a razão.

Principais fragmentos:

  • “... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”

Xenófanes de Colofon

Originário da Jônia, viveu no sul da Itália. Precursor do pensamento dos Eleatas. Para ele a Physis era a terra. Escreveu em estilo poético. Defendeu a idéia de um Deus único. Tinha influência Pitagórica.

Heráclito de Éfeso

Representante do mobilismo.As datas do nascimento e da morte de Heráclito são desconhecidas. Afirmava que a natureza está em constante movimento. "...tudo flui...". Para ele tudo esta submetido ao destino. Tudo foi feito pelo fogo e tudo se dissipa no fogo. Disse ainda que o Sol tem exatamente o tamanho que se vê.

Escolas Italianas

Pitágoras de Samos

Representada por Pitágoras e seus seguidores ... O que se conhece de Pitágoras pertence mais ao mundo da lenda que à realidade. Defendia uma doutrina mais religiosa do que filosófica. O ponto central de sua doutrina religiosa é a crença na transmigração das almas.

Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília. Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer com que a educação ética da escola se ampliasse e se tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C.

Escola Eleática

Representada principalmente por:

  • Acmeão de Croton Filho de Peirithoos, é um dos principais discípulos de Pitágoras. Foi jovem quando seu mestre já era avançado em anos. Seu interesse principal dirigia-se á Medicina, de que resultou a sua doutrina sobre o problema dos sentidos e da percepção. Alcmeão disse que só os deuses tem um conhecimento certo, aos homens só presumir é permitido.
  • Parmênides de Eléia O acme de sua existência foi por volta de 500 a.C. Foi ele o primeiro a demonstrar a esfericidade da Terra e sua posição no centro do mundo. Segundo ele, existem dois elementos: o fogo e a terra. O primeiro elemento é criador, o segundo é matéria. Os homens nasceram da terra. Trazem em si o calor e o frio, que entram na composição de todas as coisas. O espírito e a alma sao para ele uma única e a mesma coisa. Ha dois tipos de filosofia, uma se refere a verdade e a outra a opinião.

OS SOFISTAS

A Democracia ateniense, devido ao espírito de competição política e judiciária exigia uma preparação intelectual muito completa dos cidadãos. Este facto influenciou decisivamente o desenvolvimento da educação.

Vindos de toda a parte do mundo grego, os sofistas (mestres de sabedoria), dedicam-se a fazer conferências e a dar aulas nas várias cidades-estado, sem se fixarem em nenhuma. Atenas é todavia a cidade onde mais afluem, onde no século V a. C. adquirem um enorme prestígio. Aproveitam as ocasiões em que existe grandes aglomerações de cidadãos, para exibirem os seus dotes retóricos e saber, ensinando nomeadamente a arte da retórica. O seu ensino é, portanto, itinerante, mas também remunerado.

Afirmam saber de tudo. "Hipias Menor" de Platão, é o melhor exemplo deste saber enciclopédico. Tudo o que leva consigo é obra das suas mãos, desde o anel que cinzelara ao manto que tecera, aos poemas que escreveu e que transporta. É esta educação completa que pretendem transmitir aos jovens, preparando-os para ocuparem altos cargos na cidade (Polís).

EDUCAÇÃO. Apesar da diversidade dos métodos de educação dos sofistas, estes podem ser agrupados em dois tipos fundamentais:

Cultura Geral. Este ensino compreendia o estudo da Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. Estas matérias remontavam a um modelo de educação pitagórico, vindo a constituir mais tarde, na Idade Média, o célebre Quadrivium das sete Artes Liberais.

Formação Política. Este ensino orientava-se para uma visão mais prática, procurando corresponder às exigências estritas da actividade política. Constava das seguintes disciplinas: Gramática, Dialéctica e Retórica. A arte da dialectica, transforma-se numa arte de manipulação de ideias, através da qual o orador procura defender uma dada posição, mesmo que a mesma seja a pior de todas. A retórica era a arte de persuadir, independentemente das razões adoptadas. Levado até ao exagero, este tipo de ensino, desacreditará os sofistas na Antiguidade Clássica.

Cultura. Os sofistas defendem abertamente o valor formativo da cultura (Padeia), que não se resume à soma de noções, nem tão pouco ao processo da sua aquisição. A sua educação visa a formação do homem como um ser concreto, membro de um povo e parte de um dado ambiente social. A educação torna-se a segunda natureza do homem. Deste modo, os sofistas afastam-se da tradição aristocrática, ligada à afirmação de factores inatos. Os sofistas manifestam frequentemente uma visão optimista do homem, segundo a qual este possui uma inclinação natural para o bem. Protágoras foi um defensor desta posição.

Retórica. Alheios às tradições, os sofistas mostram-se dispostos a discutirem todos os assuntos. Atribuem à linguagem uma importância fundamental, mas esta não passa de uma convenção. As palavras são com frequência destituídas do seu sentido corrente, e são usadas como instrumentos de sugestão e persuasão para convencerem os seus interlocutores. Recorrem à ambiguidade das palavras, exageram na aplicação dos três princípios lógicos, para numa cadeia de deduções e sentidos ambíguos, levarem os seu interlocutores a desdizerem-se.

Raciocínio Justo - Salta para aqui! Se tens tanta coragem, mostra-te aos espectadores.

Raciocínio Injusto - Onde quiseres. Com muito gente a assistir, ainda me é mais fácil dar cabo de ti.

Raciocínio Justo- Dar cabo de mim, tu? Quem julgas que és?

Raciocínio Injusto - Um Raciocínio.

Raciocínio Justo - Sim, mas mais fraco.

Raciocínio Injusto - Pois venço-te na mesma, lá por te gabares de ser mais forte.

Raciocínio Justo - E com que artimanhas ?

Raciocínio Injusto - Inventando ideias cá muito minhas, ideias novas (...).

Raciocínio Justo - Vou dar cabo de ti, miserável.

Raciocínio Injusto - E, como não me dizes?

Raciocínio Justo - Expondo o que é justo?

Raciocínio Injusto - E eu contradigo-te e mando-te abaixo. Para já afirmo a pés juntos que não existe justiça.

Raciocínio Justo - Afirmas que não existe...?!

Raciocínio Injusto - Senão vejamos: Onde existe ela?

Raciocínio Justo - No seio dos deuses.

Raciocínio Injusto - Então como diacho é que, existindo aí justiça, Zeus ainda não pereceu, ele que pôs a ferros o próprio pai ? "

Aristófanes, As Núvens, 900-905.

Platão legou-nos uma imagem muito negativa dos sofistas, o que tem contribuído para desvalorizar a sua enorme importância no pensamento ocidental:

Antropologia. Foi graças aos sofistas que as questões antropológicas passaram a estar no centro dos debates filosóficos, secundarizando desta formas as anteriores questões cosmológicas.

Pensamento.A forma como raciocinamos torna-se num tema da filosofia.
Linguagem. A linguagem, o seu poder e modos de utilização, nomeadamente no discursos retórico, converteu-se também num tema filosófico.

Moral. Ao criticarem os modelos que sustentavam os valores tradicionais, abriram o caminho para a afirmação de uma ética autónoma baseada na razão.

Platão (428-347 a.C.)

Platão é com Aristóteles uma das referências fundamentais do pensamento ocidental. Platão, como diz François Châtelet inventou a Filosofia: "definiu o que a cultura daí em diante vai entender por Razão". Nasceu em Atenas, ou na ilha de Egina, em Maio -Junho do primeiro ano da 88ª. Olimpíada, ou seja, cerca de 428-27 a.C. Era originário de uma antiga família aristocrática ateniense, contando entre os seus antepassados, por parte da mãe o célebre legislador Sólon (c.639-559 a.C.), e do pai, o rei Codro. O pai, Aríston deve ter morrido cedo, pois a mãe Perictíone, voltou a casar com o seu tio Pirilampo, de quem teve um filho, Antífion. O seu verdadeiro nome era Arístocles, mas devido à sua compleição física recebeu a alcunha de Platão (significa literalmente "ombros largos"). Frequentou com assiduídade os ginásios, obtendo prémios por duas vezes nos Jogos Istímicos. Começou por seguir as lições de Crátilo, discípulo de Heraclito, e as de Hermógenes, discípulo de Parménides. Em princípio, por tradição familiar deveria seguir a vida política. Contudo, a experiência do governo dos trinta tiranos que governaram Atenas por imposição de Esparta (404-403 a.C.), e da qual fazia parte dois dos seus tios Crístias e Cármides, distanciaram-o desta opção de vida, pelo menos do modo como a política era exercida. O facto que mais o marcou foi a influência que sobre ele exerceu Sócrates, tendo-se feito seu discípulo por volta de 408, quando contava vinte anos. Nele encontrou o mestre, que veio a homenagear na sua obra, fazendo-o interlocutor principal da quase totalidade dos seus diálogos. A condenação de Sócrates (399), e a sua acção para o salvar, obrigaram-no a exilar-se nesse ano. Desiludido com o regime aristocrático, mas também com a democracia ateniense, passou a defender que as leis e os costumes dos povos deviam ser baseadas em concepções filosóficas.

Depois de 399 iniciou uma série de viagens durante cerca de doze anos, o que lhe abriu novos horizontes. Em Megara conviveu com o célebre Euclides e Terpsíon, discípulos de Sócrates. Regressou a Atenas para servir na cavalaria, como os seus irmãos. Voltou a viajar, desta vez foi ao Egipto onde teria sido iniciado nos mistérios de Isis Depois foi a Cirene onde estudou matemáticas com Teodoro, fazendo-o depois seu interlocutor no diálogo Teeteto. No sul da Grande Grécia (Itália), em Taranto, aprendeu a filosofia pitagórica através de Filolau, Arquitas e Timeu.. Em Creta estudou legislação de Minos. Há quem afirme que terá estado na Judeia, onde contactou com a tradição dos profetas, e até nas margens do Ganges terá conhecido místicos hindus.

Em 388 visitou a Sicília, então governada por Dionísio, o Antigo, com o propósito de converter este tirano às suas ideias filosóficas. Não tendo êxito nesta primeira investida, regressou a Atenas, em 387, onde nos jardins de Academo, junto dum templo consagrado às Musas fundou uma escola, denominada, por este facto, Academia. Esta rapidamente se tornou no maior centro intelectual da Antiga Grécia, tendo por ela passado filósofos e políticos, como Aristóteles, Eudoxo de Cnido, Xenócrates, Fócion, Esquines, Demóstenes e outros. À entrada uma legenda proibia o acesso a todos aqueles que não soubessem geometria. A academia era um verdadeiro centro de investigação, tendo como centro aquilo que podíamos designar por uma "ciência da alma humana".

Ficou em Atenas, cerca de vinte anos, até que em 367, voltou à Sicília, com a ideia de converter o novo monarca- Dionísio, o Moço-, num filósofo-rei. Os resultados não foram brilhantes, o que não o impediu de voltar à ilha em 361, com idênticos propósitos. O resultado desta última viagem foi terrível: suspeito pelas suas ideias políticas, foi perseguido e feito escravo, sendo como tal vendido no mercado de Egina, acabando por ser comprado por um dos seus amigos. Voltou a Atenas onde morreu em 347, numa altura que a cidade lutava contra Filipe da Macedónia, e cujo desfecho lhe foi fatal. A direcção da Academia foi inicialmente assumida pelo seu sobrinho Espeusito, por morte deste sucedeu-lhe Xenócrates. A Academia subsistiu até 529 da nossa era, quando foi mandada encerrar por Justiniano. A corrente filosófica conhecida por platonismo -originada do pensamento de Platão-, aparece constantemente na história do pensamento, influenciando não apenas filósofos, mas também artistas e cientistas até aos nossos dias.

Obras de Platão

Ao contrário das obras de Aristóteles que chegaram até nós, as de Platão foram escritas para o grande público. O conjunto das obras que lhe são atribuídas é constituido por 35 diálogos, algumas cartas, definições e 6 pequenos diálogos apócrifos: Axíoco, Da Justiça, Da Virtude, Demódoco, Sísifo, Eríxias. Os diálogos hoje considerados autênticos, reduzem-se todavia apenas a 24, sendo em geral dividos em quatro grupos, de acordo com a sua maior ou menor proximidade às ideias socráticas.

q Diálogos de juventude, onde é nítida a influência socrática: Laques, Cármide, Eutrifrom, de Hipias Menor, Apologia Sócrates, Críton, Ion, Protágoras, Lísis;

q Diálogos dirigidos contra os sofistas: Górgias, Ménon, Eutidemo, Crítias, Teeteto;

q Diálogos de maturidade, onde é desenvolvida de forma admirável a sua teoria das ideias: Fedro, Banquete, Fédon e República;

q Diálogos onde realiza uma revisão crítica da sua filosofia: Parménides, Sofista, Político, Filebo, Timeu, e as Leis, esta obra não foi concluída.

Principais Domínios de Investigação

Platão parte sempre do todo para as partes. Apreender a sua Filosofia é descobrir um sedutor modo de pensar em que tudo remete para tudo, e nada pode ser separado.

Teoria do Conhecimento

Recusou que se pudesse falar num conhecimento baseado no mundo sensível, pois este apenas nos pode dar opiniões mutáveis e ilusórias. Defendeu por isso que o verdadeiro conhecimento estava em ideias eternas que existiam num mundo separado das coisas sensíveis. Estas foram eram imitações, mais ou menos prefeitas das ideias. Sustentou ainda que todos os seres humanos, em graus variáveis, quando nascem já possuem muitas destas ideias. Neste sentido, conhecer ou aprender é recordar aquilo que está obscurecido na alma.

Moral

Combatendo o relativismo dos valores, defendido pelos sofistas, sustentou que o único dever do homem é procurar o Bem, que identifica com o Belo e o Uno. Para o atingir, a única via possível passa pelo desprendimento dos valores materiais e das necessidades corporais.

Política

A política é entendida como o estudo normativo dos príncípios teóricos do governo dos homens, encontrando o seu fundamento no estudo da alma humana.

Estética

A sua estética é indissociável da teoria das ideias. Como as ideias são imutáveis e eternas, se pretendemos apreciar as obras de arte devemos seguir estes príncípios, exigindo que elas se aproximem das ideias, o mesmo é dizer da perfeição. Neste sentido, Platão não pode admitir qualquer mudança ou inovação no campo artistíco. Um vez atingida a obra de arte ideal, isto é, perfeita, só resta aos artistas continuar a replicá-la eternamente.

Cosmologia

As suas ideias cosmológicas foram profundamente influenciadas pelo pitagorismo. Recusando as causas físicas para o que ocorre na natureza, sustentou que a única ciência possível estava na descoberta dos modelos eternos e perfeitos de todas as coisas. Concebeu por isso um universo hierarquizado segundo graus de perfeição: No alto estavam os astros, considerados divinos, sendo por isso eternos, imutáveis, tendo uma forma esférica que era a que mais se adequava a estes atributos. Em baixo, estava a terra, imperfeita.

Aristóteles

(384-322 a.C.)

É difícil classificar Aristóteles, tão rica e multifacetada foi a sua obra. Nela encontramos uma exaustiva compilação dos conhecimentos do seu tempo, mas também, uma filosofia que ainda hoje influência a nossa maneira de pensar. Nasceu em Estagira (e por isso é também conhecido por "Estagirita"), colónia fundada pelos calcidenses da Eubeia. Era filho de Nicómaco, médico que se dizia descendente do próprio Asclépio, e fora outraora médico de Amintas II, rei da Macedónia. Por morte do pai (366) viajou para Atenas afim de aí prosseguir os seus estudos. Entre a Escola retórica de Isócrates e a Academia de Platão, escolheu a última, onde acaba por ascender a professor. Após a morte de Platão, em 347, abandonou a Academia provavelmente por divergências quanto à escolha de Espeusito, sobrinho de Platão, para a direcção da escola.

Iniciou então uma atribulada viagem que o levou a Assos, na Ásia Menor, onde se estabelecera uma comunidade de alunos da Academia, protegida pelo tirano Hermias, rei de Atárnea. Este possibilita-lhe o contacto com a organização interna e externa de um Estado (347-345). Casa entretanto com Pítias, sobrinha de Hermias. A sua permanência foi subitamente interrompida, quando os persas suspeitando que Hermias estava a colaborar com os macedónios, decidem crucificá-lo em Persópolis (345). Aristóteles foge, refugiando-se em Mitilene, na ilha de Lesbos, onde se dedica ao estudo da biologia.

Filipe da Macedónia - conquistador da Grécia -, devido à notoriedade que entretanto adquirira, chama-o para preceptor do seu filho Alexandre, futuro herdeiro do trono (343). A sua influência sobre o jovem princípe foi enorme. Alexandre revelou-se um aluno apaixonado pelos autores clássicos (diz-se que adormecia com a Ilíada de Homero, debaixo da almofada, e até sonhava ser como um dos seus heróis, Áquiles). Manifestou igualmente interesse pelas discussões filosóficas, a investigação da natureza, a medicina, a zoologia, a botânica, fazendo-se acompanhar nas suas expedições militares por um grupo de investigadores.

Quando Alexandre subiu ao trono (335), Aristóteles regressou a Atenas, onde criou a sua própria escola, o Liceu. Foi-lhe dado este nome porque estava situada junto ao templo dedicado a Apolo Liceano. Os estudos concentravam-se sobre o que hoje poderíamos denominar "ciências naturais", ao contrário da Academia, onde era dada garnde importância à geometria. Tinha dois tipos de cursos, os "exotéricos" para o público, e os "esotéricos" destinados apenas a alunos iniciados nas várias matérias. O liceu era um verdadeiro centro de investigação, apoiado por Alexandre. Nele Aristóteles e os seus discípulos recolhiam informações àcerca de tudo, organizando depois estes dados num sistema global.

A morte de Alexandre, em 321, desencadeia um guerra de libertação entre os gregos e os macedónios que dominavam a Grécia desde Filipe. Aristóteles, como era de esperar foi então acusado de colaborador dos macedónios, é perseguido, refugiando-se em Cálcis, na Eubeia, onde morre no ano seguinte com 63 anos. A direcção do Liceu, após a sua saída foi confiada ao seu discípulo Teofrasto. Entre os seguidores do Liceu, destacam-se Eudemo de Rodes, e, no século I, Andrónico de Rodes.

Aristóteles escreveu um grande número de obras para o público não iniciado na filosofia, sob a forma de diálogos, à semelhança do seu mestre Platão. Contudo nenhum chegou até nós. As únicas "obras" que sobreviveram são constituidas pelos seus apontamentos que escreveu para as suas aulas no Liceu. No século I a.C. foram os mesmos organizados por Andrónico de Rodes.

Obras de Aristóteles

q Livros de lógica ("organon" ou instrumento): Categorias; Sobre a Interpretação; Primeiros Analíticos ( 2 livros),; Segundo Analíticos (2 Livros); Tópicos (8 livros); Refutações Sofísticas.

q Livros de física e a concepção do universo: Física (8 livros); Sobre o Céu (2 livros); Sobre a Geração e a Corrupção (2 livrso); Meteorológicos (4 livros).

q Livros de psicologia: Acerca da Alma (3 livros); "Parva Naturalia" (4 tratados), incluindo os seguintes livros: Acerca da da percepção dos sentidos; Acerca da memória e reminiscência; acerca do sono; acerca dos sonhos;

qLivros de biologia: História dos Animais (10 livros, com partes de autoria duvidosa); Acerca das partes dos animais (4 livros); acerca do movimento dos animais; acerca da marcha dos animais; acerca da geração dos animais (5 livros).

qLivros de metafísica: Foi Andronico que atribuiu a estes livros (14) a denominação de Metafísica (literalmente "depois da física), por os mesmo se seguirem aos seus apontamentos que tratavam da física.

qLivros de ética: Ética a Nicómaco (organizada por Nicómaco, filho de Aristóteles); Ética a Eudemo (7 livros, organizados por Eudemo, discípulo de Aristóteles); a Grande Moral ( 2 livros, com fragmentos das éticas anteriores e de autoria duvidosa):

qLivros de Política: Política (8 livros); Constituição de Atenas.

qLivros sobre a linguagem e a estética: Retórica e Poética.

Principais Domínios de Investigação

Toda a sua filosofia assenta numa observação minuciosa da natureza, da sociedade e dos indivíduos, organizando de uma forma verdadeiramente enciclopédica. A sua ideia fundamental era a de tudo classificar, dividindo as coisas segundo a sua semelhança ou diferença, obedecendo a um conjunto de perguntas muito simples: Como é esta coisa ? (o género). O que é que a difere doutras que lhe são semelhantes? ( a diferença). A partir daqui começava a hierarquizar todas as coisas, de uma forma tão ordenada que até então nunca ninguém conseguira fazer.

qLógica: o primeiro sistema lógico, que permitiu estabelecer um conjunto de princípios e regras formais por meio das quais se tornou possível distinguir as conclusões falsas das exactas. Na Idade Média os seus escritos sobre lógica foram os manuais mais importantes usados nas universidades, sobretudo na forma que lhes deu o filósofo português Pedro Hispano ( Papa João XXI).

qFísica: a física era a chave da natureza das coisas, não apenas da forma como se comportavam no presente, mas também no que pontencialmente viriam a transformar-se. Quanto à constituição das coisas defendia a teoria dos quatro elementos: agua, terra, fogo e ar. Os corpos celestes, com excepção da terra, eram constituídos por um quinto elemento puro e incorruptível. O universo é concebido de forma hierarquizada, tendo no centro a terra, girando à sua volta todos os corpos celestes.

qBiologia: recusando a separação das ideias da natureza, como fazia Platão, Aristóteles, apontou como tarefa para o investigador a de descobrir e classificar as formas do mundo material. Os últimos 12 anos da sua vida foram preenchidos com esta tarefa. Partindo de uma observação sistemática dos seres vivos, e não desdenhando estudar vermes ou insectos, registou perto de 500 classes diferentes de animais, dos quais dissecou aproximadamente 50 tipos. Foi o primeiro que dividiu o mundo animal entre vertebrados e invertebrados; sabia que a baleia não era um peixe e que o morcego não era um pássaro, mas que ambos eram mamíferos.

q Política: a sua primeira preocupação foi a elaborar uma listagem tão completa quanto possível sobre os diferentes modelos políticos que existiam no seu tempo. Enumerou um total de 158 constituições de cidades ou países diferentes. Partindo da sua diversidade procurou depois as suas semelhanças e diferenças, pondo em evidência o que constituía a natureza de cada regime. Evitou, quanto pode, mostrar as suas preferências por um ou outro regime político.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O MITO DA CAVERNA

Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas as sombras dos outros e de si mesmos por que estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De inicio, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento.
Ao permanecer no exterior o prisioneiro, aos poucos se habitua a luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais regressar a ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo a realidade?