OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
Os filósofos pré-socráticos são, como sugere o nome, os filósofos anteriores a Sócrates ( ou anteriores a Platão, já que alguns filósofos afirmam só poder falar de Sócrates, por ele nunca ter deixando nada escrito de sua autoria, como um personagem de Platão).
Essa divisão acontece devido ao objeto da filosofia destes filósofos e da novidade introduzida por Sócrates. Temporalmente, os Sofistas são anteriores a Sócrates, pois já havia sofistas antes de Sócrates, contemporâneos a ele e posteriores. Mas o pensamento deles situa-se em uma categoria própria em certas vezes, e relacionados a Sócrates noutras vezes. Isso porque o pensamento de ambos (sofistas e Sócrates) chega a tocar-se muitas vezes; suas diferenças consistem em questões de conduta (os sofistas cobravam por seu ensinamento, por exemplo) e algumas posições (os sofistas eram, no mais das vezes, relativistas, por exemplo). Mas ambos representam uma certa ruptura com os pré-socráticos, que são também chamados de filósofos da physis.
Tais filósofos, considerados pioneiros da filosofia ocidental, buscavam um princípio, a arché, que deveria ser um princípio presente em todos os momentos da existência de tudo. Essa arché deveria estar no início, no desenvolvimento e no fim de tudo.
São chamados "da physis" porque suas investigações giravam sempre em torno do mundo material, físico; embora não poucas vezes o arché fosse algo não-físico, como os números, para os pitagóricos, ou o a-peiron (uma "coisa" incriada e sem um começo), para Anaximandro.
Os principais filósofos pré-socráticos (e suas escolas) foram:
Escola Jônica
Primeiro filósofo Milesiano. Tales foi comerciante de sal, azeite e oliva e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um eclipse ocorrido em 585 a.C. De suas idéias quase nada é conhecido. Aristóteles o chama de fundador da filosofia, e lembra que a sua doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as coisas (physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno.
Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à idéia de que o imã tem vida, porque move o ferro. Essa afirmação representa não um retorno a concepções míticas, mas simplesmente a idéia de que o universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo). Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos (exemplo: teorema de Pitágoras). Tales viajou por várias regiões, inclusive o Egito, onde, segundo consta, calculou a altura de uma pirâmide a partir da proporção entre sua própria altura e o comprimento de sua sombra: essa proporção é a mesma que existe entre a altura da pirâmide e o comprimento da sombra desta. Esse cálculo exprime o que, na geometria, até hoje se conhece como teorema de Tales.
Tales foi um dos filósofos que acreditava que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué. Para Tales, o arqué seria a água. Tales observou que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. Com essa afirmação deduz-se que a existência singular não possui autonomia alguma, apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular é passageira, modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento. Tales com essa afirmação queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.
Principais fragmentos:
- “... a água é o princípio de todas as coisas...”.
- “... todas as coisas estão cheias de deuses...”.
- “... a pedra magnética possui um poder porque move o ferro..."
Milesiano. Para ele a Physis era o apeiron (o ilimitado ou o indeterminado). Anaximandro viveu em Mileto no século VI a.C.. Foi discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro achava que nosso mundo seria apenas um entre uma infinidade de mundos que evoluiriam e se dissolveriam em algo que ele chamou de ilimitado ou infinito. Não é fácil explicar o que ele queria dizer com isso, mas parece claro que Anaximandro não estava pensando em uma substância conhecida, tal como Tales concebeu. Talvez tenha querido dizer que a substância que gera todas as coisas deveria ser algo diferente das coisas criadas. Uma vez que todas as coisas criadas são limitadas, aquilo que vem antes ou depois delas teria de ser ilimitado.
E evidente que esse elemento básico não poderia ser algo tão comum como a água. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas - o arqué - não era algo visível; era uma substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários. Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível.
Esse filósofo foi o iniciador da astronomia grega. Foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico totalmente. De acordo com ele para que o vir-a-ser não cesse, o ser originário tem de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser. O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno.
Principais fragmentos:
- “... o ilimitado é eterno...”
- “... o ilimitado é imortal e indissolúvel...”
O terceiro filósofo de Mileto foi Anaxímenes (c. 570—526 a.C.). Ele pensava que a origem de todas as coisas teria de ser o ar ou o vapor. Anaxímenes conhecia, claro, a teoria da água de Tales. Mas de onde vem a água? Anaxímenes acreditava que a água seria ar condensado. Acreditava também que o fogo seria ar rarefeito. De acordo com Anaxímenes, por conseguinte, o ar("pneuma") constituiria a origem da terra, da água e do fogo.
Conclusão - Os três filósofos milésios acreditavam na existência de uma substância básica única, que seria a origem de todas as coisas. No entanto, isso deixava sem solução o problema da mudança. Como poderia uma substância se transformar repentinamente em outra coisa? Os eleatas A partir de cerca de 500 a.C., quem se interessou por essa questão foi um grupo de filósofos da colônia grega de Eléla, no sul da Itália, por isso conhecidos como eleatas
O mais importante dos filósofos eleatas foi Parmênides (c. 2000-5000 a.C.). “Nada nasce do nada, e nada do que existe se transforma em nada”. Com isso quis dizer que “tudo o que existe sempre existiu”. Sobre as transformações que se pode observar na natureza... ”Achava que não seriam mudanças reais”. De acordo com ele, nenhum objeto poderia se transformar em algo diferente do que era. Início do racionalismo Percebia, com os sentidos, que as coisas mudam. Mas sua razão lhe dizia que logicamente impossível que uma coisa se tornasse diferente e, apesar disso, permanecesse de algum modo a mesma. Quando se viu forçado a escolher entre confiar nos sentidos ou na razão, escolheu a razão. Essa inabalável crença na razão humana recebeu o nome de racionalismo. Um racionalista é alguém que acredita que a razão humana é a fonte primária de nosso conhecimento do mundo.
Um contemporâneo de Parmênides foi Heráclito (c. 540-480 a.C.), que era de Éfeso, na Ásia Menor. Heráclito propunha que a matéria básica do Universo seria o fogo. Pensava também que a mudança constante, ou o fluxo, seria a característica mais elementar da Natureza. Podemos talvez dizer que Heráclito acreditava mais do que Parmênides naquilo que percebia. Tudo flui, disse Heráclito. Tudo está em fluxo e movimento constante, nada permanece. Por conseguinte, “não entramos duas vezes no mesmo rio”. Quando entro no rio pela segunda vez, nem eu nem o rio somos os mesmos.
Problema: Parmênides e Heráclito defendiam dois pontos principais diametralmente opostos. Parmênides dizia:
- a) nada muda,
- b) não se deve confiar em nossas percepções sensoriais.
Heráclito, por outro lado, dizia:
- a) tudo muda (“todas as coisas fluem”), e
- b) podemos confiar em nossas percepções sensoriais.
Quem estava certo? Coube ao siciliano Empédocles (c. 490-430 a.C.) indicar a saída do labirinto.
Como estudioso da physis, Heráclito acreditava que o fogo era a origem das coisas naturais.
Ele achava que os dois estavam certos:
- 1. A água não poderia, evidentemente, transformar um peixe em uma borboleta. Com efeito, a água não pode mudar. Água pura irá continuar sendo água pura. Por isso, Parmênides estava certo ao sustentar que “nada muda”.
- 2. Mas, ao mesmo tempo, Heráclito também estava certo em achar que devemos confiar em nossos sentidos. Devemos acreditar naquilo que vemos, e o que vemos é precisamente que a Natureza muda.
- 3. Solução - Empédocles concluiu que o que precisava ser rejeitado era a idéia de uma substância básica única. Nem a água nem o ar sozinhos podem se transformar em uma roseira ou uma borboleta. Não é possível que a fonte da Natureza seja um único “elemento”. Empédocles acreditava que a Natureza consistiria em quatro elementos, ou “raízes”, como os denominou. Essas quatro raízes seriam a terra, o ar, o fogo e a água.
A - Como ou por que acontecem as transformações que observamos na natureza?
- 1. todas as coisas seriam misturas de terra, ar, fogo e água, mas em proporções variadas. Assim as diferentes coisas que existem seriam os processos naturais gerados pela aproximação e à separação desses quatro elementos.
- 2. Quando uma flor ou um animal morrem, disse Empédocles, os quatro elementos voltam a se separar. Podemos registrar essas mudanças a olho nu. Mas a terra e o ar, o fogo e a água permaneceriam eternos, “intocados” por todos os componentes dos quais fazem parte. Dessa maneira, não é correto dizer que “tudo” muda.
- 3. Basicamente, nada mudaria. O que ocorre é que os quatro elementos se combinariam e se separariam - para se combinarem de novo, em um ciclo. B - O que faria esses elementos se combinarem de tal modo que fizessem surgir uma nova vida? E o que faria a “mistura”, digamos, de uma flor se dissolver de novo? Empédocles pensava que haveria duas forças diferentes atuando na Natureza. Ele as chamou de amor e discórdia. Amor uniria as coisas, a discórdia as separaria.
Para Demócrito, as transformações que se pode observar na natureza não significavam que algo realmente se transformava. Ele acreditava que todas as coisas eram formadas por uma infinidade de “pedrinhas minúsculas, invisíveis, cada uma delas sendo eterna, imutável e indivisível“. A estas unidades mínimas deu o nome de ÁTOMOS. Átomo significa indivisível, cada coisa que existe é formada por uma infinidade dessas unidades indivisíveis. “Isto porque se os átomos também fossem passíveis de desintegração e pudessem ser divididas em unidades ainda menores, a natureza acabaria por diluir-se totalmente”. Exemplo: se um corpo – de uma árvore ou animal, morre e se decompõe, seus átomos se espalham e podem ser reaproveitados para dar origem a outros corpos.
Talvez pudéssemos comparar o átomos as peças de um jogo chamado LEGO, que possuem ganchos e engates, permitindo que sejam combinadas para construção de diferentes figuras. Tais ligações podem ser desfeitas e reaproveitadas para construção de novos objetos (carros, castelos, casas, etc). A teoria atômica atual é muito semelhante a de Demócrito, pois diz que a natureza é composta de diferentes átomos que se juntam para criar, se separam e voltam a se reunir para criar novas coisas.
Alem disso, a ciência descobriu que os átomos podem ser divididos em partículas menores chamadas de PRÓTONS, NÊUTRONS E ELÉTRONS. Demócrito não teve acesso aos aparelhos eletrônicos de nossa época. Sua única ferramenta foi a razão, esta lhe dizia que “nada surge do nada e nada desaparece, então a natureza tem de ser composta por pecinhas minúsculas que se combinam e depois se separam”. Demócrito concordava com Heráclito em que tudo na natureza ”flui”, pois as formas vão e vêm. Por detrás de tudo o que flui, porém, há algo de eterno e de imutável, que não flui,o átomo. Até este momento os filósofos haviam encontrado a solução para os problemas do “elemento básico e das transformações”, usando para isto apenas a razão.
Principais fragmentos:
- “... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”
Originário da Jônia, viveu no sul da Itália. Precursor do pensamento dos Eleatas. Para ele a Physis era a terra. Escreveu em estilo poético. Defendeu a idéia de um Deus único. Tinha influência Pitagórica.
Representante do mobilismo.As datas do nascimento e da morte de Heráclito são desconhecidas. Afirmava que a natureza está em constante movimento. "...tudo flui...". Para ele tudo esta submetido ao destino. Tudo foi feito pelo fogo e tudo se dissipa no fogo. Disse ainda que o Sol tem exatamente o tamanho que se vê.
Escolas Italianas
Representada por Pitágoras e seus seguidores ... O que se conhece de Pitágoras pertence mais ao mundo da lenda que à realidade. Defendia uma doutrina mais religiosa do que filosófica. O ponto central de sua doutrina religiosa é a crença na transmigração das almas.
Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Crotona, colônia grega, uma associação científico-ético-política, que foi o centro de irradiação da escola e encontrou partidários entre os gregos da Itália meridional e da Sicília. Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer com que a educação ética da escola se ampliasse e se tornasse reforma política; isto, porém, levantou oposições contra ele e foi constrangido a deixar Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo provavelmente em 497-96 a.C.
Escola Eleática
Representada principalmente por:
- Acmeão de Croton Filho de Peirithoos, é um dos principais discípulos de Pitágoras. Foi jovem quando seu mestre já era avançado em anos. Seu interesse principal dirigia-se á Medicina, de que resultou a sua doutrina sobre o problema dos sentidos e da percepção. Alcmeão disse que só os deuses tem um conhecimento certo, aos homens só presumir é permitido.
- Parmênides de Eléia O acme de sua existência foi por volta de 500 a.C. Foi ele o primeiro a demonstrar a esfericidade da Terra e sua posição no centro do mundo. Segundo ele, existem dois elementos: o fogo e a terra. O primeiro elemento é criador, o segundo é matéria. Os homens nasceram da terra. Trazem em si o calor e o frio, que entram na composição de todas as coisas. O espírito e a alma sao para ele uma única e a mesma coisa. Ha dois tipos de filosofia, uma se refere a verdade e a outra a opinião.