terça-feira, 8 de abril de 2008

O MITO DA CAVERNA

Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas as sombras dos outros e de si mesmos por que estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De inicio, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento.
Ao permanecer no exterior o prisioneiro, aos poucos se habitua a luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais regressar a ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo a realidade?

O MITO

RESUMO DAS AULAS DE FILOSOFIA PARA OS 1ºS ANOS – 2005.

O que é?

Podemos fazer uma série de conceitos (infindos) com a atividade de filosofar a saber :

. como um sinônimo de pensar, e que relativamente leva ao senso comum não obstante às situações de nosso ciclo natural (ato de nascer, ato de crescer, ato de morrer) e nossa existência que nos fazem superar o senso comum (muito embora ainda fiquemos no pietismo[1] exagerado), mas não totalmente. Também nos leva a uma reflexão sobre o sentido da vida e das coisas.

Embora ainda carente de fundamentos e sua vaguidão, é passível de uma abrangência maior.

. como um sinônimo de saber viver virtuosamente. Neste sentido abrange o ato de filosofar como uma sabedoria. É muito comum nas culturas ditas orientais uma vez que, o sábio adquire respeitável posição na sociedade devido, não somente como guardião das tradições locais ou culturais de um povo, mas como uma instância maior de conhecimento dado numa cultura. É por ele que se zelam as tradições dadas,

. como um filosofar propriamente dito e que tem seu início na Grécia por volta dos séculos VI e V antes de Cristo e que passou à reflexão dada pela indagação da natureza e um olhar crítica às tradições, mitos e divindades deste povo antigo (e como a maioria dos povos da bacia mediterrânica).

É necessário saber que se ressalta a validade de um saber e de seus próprios conhecimentos, desmistificando a cultura como uma crença hereditária ou de fantasias criadas que impediam tirar o “véu de Maya” [2] ou seja, propiciar ao homem o conhecimento.

O homem, desde o início, busca a verdade sobre as coisas e esta busca levava-o a superar os obstáculos “instransponíveis” da mitologia.

Muito embora os mitos dêem uma visão “simplista” das coisas e sobre uma determinada origem, não podemos desprezá-lo de todo para incorrermos no puro racionalismo. Tanto é fato que, Freud os utilizará para explicar a sua Psicanálise.

Assim, filosofar é questionar os fundamentos de uma cultura em busca de uma verdade, e nela o saber.

Entre o mito e a Filosofia.

Quando estudamos a História antiga (com os brilhantes professores Rita e Amarildo) vemos claramente o dito processo evolutivo do homem numa constante indeterminada que o levará sempre, a saber, mais do que já se conhecia em eras anteriores. No entanto, toda a forma de explicação da História , assim como de todas as demais ciências, são propriamente uma reflexão filosófica.

Na Antiguidade, principalmente à quem teve a oportunidade de assistir aos filmes “Tróia” e” Alexandre”, pode reconhecer elementos maiores que não são tratados na História, o que alguns dirão não serem importantes muito embora não sejam enriquecedores.

É neste mundo antigo que temos claramente a epopéia grandiosa dos homens que se lançam ao desconhecido, a desvendar os segredos da natureza e superar os obstáculos de uma sabedoria menor: a mitológica.

Toda cultura, ao dar início a sua origem, determina-a não de forma racional, precisa – recorre à alegoria dos mitos e para atestá-la como uma cultura heróica, determinada, conquistadora. Os deuses caminham com seu povo, numa superação clara dos obstáculos [3] com o fim de levá-los aos píndaros da cultura. Na antiga Hélade, não poderia ser diferente.

Como berço da cultura ocidental, a Grécia gozava no seu apogeu (tanto econômico, social, artístico, cultural e político) de ser um povo de expressão elevada na bacia do Mediterrâneo (visto que, Roma ainda era um assentamento no Lácio, o Egito já encontrava no seu auge, a antiga Fenícia não se desenvolvia como um todo, Israel ainda nem pensava em sair do Egito, o império babilônico e os medas ficavam isolados no extremo leste do Oriente Médio) sendo um posto de passagem (devido aos portos em seu recortado litoral) comercial, via de regra, também cultural. Com isso, pode-se ter em conta que o desenvolvimento econômico caminhava equitativamente com o desenvolvimento da pólis grega.

No entanto, como a cultura politeísta dos tempos antigos, a Grécia também não ficava para trás. A sua extensa variedade de deuses e de seus heróis lendários, de certa forma, auriam-na de um passado glorioso e, ao mesmo passo que demonstravam que “aos homens só era possível conhecer algo que fosse determinado pelos deuses.” Prestem bastante atenção: não a um deus, mas a alguns deuses.

Portanto, é neste panorama que se desenvolve a narrativa mitológica, de certa forma fantástica e fantasiosa de que nada era possível além do Olimpo senão pelos deuses.

Assim, o conhecimento se resumia ao desconhecido e pela vontade dos deuses.

Mito

O mito é uma forma simbólica, simplória e fantasia de se narrar uma origem ou arché. Servem, a grosso modo, como forma de determina uma gênese sem uma racionalidade expressa, mais próxima do que hoje pode-se dizer gênero literário.

Como, efetivamente, ilustra uma narrativa peculiar e particular a uma determinada cultura, ele reflete em forma de metáfora um princípio desconhecido, intangível e que, neste sentido, pode-se nominar o inominável[4] . Um exemplo: Zeus é criado a partir de Cronos. Cronos, na ânsia de manter-se eterno, devora seus filhos após criá-los. Zeus não quer se submeter ao ímpeto de Cronos e luta para ser posto novamente a vida. Este ciclo se renova a todo o instante não havendo um vencedor ou vencido.

Como contar isso de forma racional dentro da estrutura mitológica?

Cronos é o tempo, Zeus é um simples homem ao qual pressupõe-se uma finitude. O tempo constantemente devora ao homem e, este, constantemente quer manter-se além dele, ou seja, estar fora do tempo, de seu domínio. Esta esfera é a eternidade.

Logo,

“O homem procura ser eterno, mesmo que seja constantemente devorado pelo próprio tempo”[5]

É o homem projetando-se na eternidade embora seja-o finito.

O mito também garantia as normas de vida comunitária numa determinada pólis[6].

Mito e Filosofia estão em busca de um mesmo ontós (origem do ser) e télos (fim) mesmo que por vias diferentes: uma no aspecto cultural metafórico e a outra pela via racional reflexiva.

Após um longo ciclo na história da Hélade, o mito constitui-se como uma fonte exclusiva de explicação para a existência do homem e da ordem cosmogônica do mundo. Este ganhou a aura maior quando fora transmitido como uma tradição oral (logo escrita) [7] e narravam os feitos do povo grego (coisa similar pode ser vista em “Os lusíadas”, de Camões), mas apontavam duas coisas que são importantíssimas:

a) O destino dos homens era pré determinado: e só poderiam ser conhecidos pela força dos oráculos e seus sacerdotes. De forma alguma, o destino de um determinado indivíduo poderia ser modificado[8];

b) Os homens eram simples jogos nas mãos das divindades: ou seja, faziam aquilo que era determinado por eles. Sabia-se que as divindades gregas eram extremamente vaidosas e competiam entre si para terem mais atenção e devoção (culto) de um determinado povo. Se virem ao filme indicado no rodapé desta página verão claramente o que estamos falando.

Nobres colegas, como lembramos este ciclo fora quebrado no momento em que Tales de Mileto passou a indagar sobre a natureza das coisas, o princípio motor da vida e auferiu à Filosofia o caráter de investigação das coisas. Nota: além de matemático e físico, Tales assume o papel de primeiro filósofo na clareza da palavra.

Para se divertir aprendendo

Nem tudo é caneta e papel (ou apostila), é preciso também um momento de lucidez para dar clareza à massa cinzenta dentro de uma forma óssea conhecida como cabeça.

Portanto, nada mais simples do que ler, ver e ouvir.

Leiam o livro “o livro de ouro da Mitologia”, de Thomas Bulfinch (Ediouro). É um livro muito rico em histórias de mitos, todos com um detalhamento muito claro.

Nele teremos os mitos criacionistas gregos, hindus, chineses, normandos, celtas. Há muitos signos que usamos no nosso dia-a-dia que evocam aos mitos [9] e tradições mitológicas.

Se desejar um livro “mais cabeça” leiam “mito e realidade”, de Mircea Eliade, constante no rodapé das primeiras páginas que servem para dar uma panorâmica do aspecto dos mitos na vida humana.

Para ouvir, além de “Stairway to Heaven”, há o disco “as aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor”, particularmente à música “as minas do rei Salomão”.

Como filmes, já os citamos e se o desejarem no gênero comédia, vejam “um fofoqueiro no céu”, de Mazaroppi (nacional). No gênero terrir (terror com riso) “o mestre dos desejos”, onde um djin (figura mitológica caldéia) fica aprisionada em um rubi por milhares de anos e promete saciar os desejos daquele que o libertar.

No mais, se o desejarem, troquem experiências de outros livros (menos Harry Porter e os de Paulo Coelho) e filmes (e músicas) para podermos construir um bom conhecimento).

Resumo das aulas três e quatro – Filosofia.

(compreendidas entre 01.03 até 08.03.05)

A autoridade do mito

Vimos que Mito e Filosofia são formas às quais o homem utiliza para explicar o mundo e visam responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, o surgimento do universo e do homem, bem como as normas que garantem a vida em uma comunidade. Enumeramo-as:

a) Ao buscar explicações, seja pela linguagem do mito, seja pela linguagem filosófica, o homem está tentando estabelecer a estrutura de sua cultura,

b) Entre os gregos, a mitologia constitui a fonte de explicação exclusiva da existência do homem e a organização do mundo. As interpretações imaginárias criadas assumiram o caráter de autoridade por serem antigas.

Descrevemos os mitos como:

a) uma história religiosa, revelada com autoridade dogmática[10],

b) o passado é descrito como as tradições que não admitem crítica alguma,

c) narram uma história ab initio (no começo, desde o início),

d) narrar uma história sagrada equivale a revelar um mistério passado in illo tempore (naquele tempo),

e) suas personagens não são seres humanos, são heróis civilizadores ou deuses, seus feitos são heróicos e sobrehumanos dados ab origine (desde a origem)[11],

f) uma vez revelado, o mito torna-se apodítico: funda a verdade absoluta.

g) o mito revelava uma expressão regional, cultural, particular, cristalização de interesses locais.

No entanto, o mito não dava respostas mais concretas às reflexões filosóficas e aos anseios do mesmo, portanto, era visto com certo desprezo pelos mesmos[12]. O mito não propiciava as respostas sobre uma determinada ciência ou seu particular.

Com o surgimento da Filosofia e a reflexão a partir da razão tendeu os mitos caíram em um desuso, recuperado alguns séculos mais tarde pelo círculo positivista da escola de Viena.

Um novo conceito de verdade

Indira e Roberta, colegas inseparáveis do primeiro ano do colégio Salesiano, certa vez ao comentarem sobre música clássica e sobre as últimas boas músicas surgidas na praça, comentavam sobre W.A Mozart:

- Indira, aprendi a tocar a “Ronda alla turca” por completo. É fabuloso saber que, além de um clássico que exige uma destreza e apuro técnico sobrenatural, expressa uma clareza de tons e semitons, nuances totalmente diferentes ao tempo em que fora escrita, diz Roberta.

- Isso é verdade! Meu professor de Música me explicou que em Mozart, quando a escreveu, buscava a verdade do sentimento musical. Sabia que, já nesta época havia ingressado na maçonaria? Sabe o que ele buscava? A verdade das coisas replica Indira.

- Legal isso, né? Mas, veja só: qual é a verdade definitiva da música? Você pode me dizer? Todas as vezes que toco um “Noturno” de Chopin, uma “Serenata ao luar” de Beethoven, mesmo uma música mais bela como “Jesus alegria dos Homens” de Bach, sinto algo totalmente espontâneo, belo, sei lá, indizível. Mas quanto toco uma música popular, muito na mídia, pareço estar fazendo um esforço em que ela acabe logo, replica Roberta.

- É, será que existe uma verdade ou várias verdades? Diz Indira.

- Sei lá! O que interessa é que eu tenho a minha verdade, replica Roberta.

Isso é uma alegoria, uma conversa que poderia ter acontecido entre ambas colegas. No entanto, se isso realmente ocorreu, remontaram a um diálogo que ocorre há séculos e continua sem resposta.

O que é a verdade?

Será que existe uma verdade fundamental e universal?

Será que existem pseudo verdades, verdades absolutas, verdades dogmáticas, verdades relativas... então, todas são verdades.

Se você optou por seguir esta linha, como na propaganda da Fiat, “tá na hora de você rever seus conceitos”.

Existem verdades fundamentais que são inquestionáveis em determinados pontos, mas ao serem expressadas como respostas, claramente levarão ao engano e à aporia[13].

Aquele que diz possuir uma verdade universal pode estar se passando por um ”Edir Macedo” lhe prometendo uma vaga no céu.

Voltando aos antigos gregos, tinha-se por verdade (e o que era próprio da tradição) aquilo que era dito pela boca do oráculo, expresso pela vontade de um tirano, de um oligarca, um magistrado e de um sacerdote. Incorria num grave “pecado” ou ofensa àquele que fosse contra a douta verdade. Um caso clássico (e se lerem o livro “a apologia de Sócrates[14]) é o do processo de Sócrates e de ir contra esta “aurida verdade” [15].

Contestar algo estabelecido e com autoridade constituída (como a “verdade”) significava, àquele tempo, ouvir a música do além.

Mas, detalhes a parte vamos ao que interessa.

Podemos, a partir de nossa visão, definir que o homem está em busca da verdade filosófica, ou seja, a que é incontestável, fundada numa razão elevada e que não encontra ponto de fuga algum. Esta procura libertar o homem da autoridade arbitrária da verdade imposta[16] fazendo com que assuma a verdade conhecida e a transforme em uma meta de vida.

Usando de um aforismo bíblico, vemos que Jesus Cristo mostra que “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” reiteradas vezes apontando para o sentido de uma busca sincera não presa numa vontade/tradição imposta e que “amarrava” o homem.

Da mesma forma é a verdade filosófica: é uma busca natural do ser humano sobre o que, por que, para que o sentido de vida, mundo, relações, sociedades, finitude, eternidade, natureza e por aí vai.

A verdade procurada deveria constituir um conhecimento universal, válido (para todos) e necessário à humanidade. Deveria:

· ter validação universal, aceitação por todas as formas de manifestação humana nas mais várias culturas,

· manter-se independente das doutrinas e crenças “aprisionantes”,

· dissipar a autoridade mitológica e fantástica,

· romper com a insegurança e a minoridade do pensamento arcaico do ser humano ou seja, abrir os olhos dos homens para um novo conhecimento, rico, enriquecido e válido.

A Filosofia propunha libertar o homem do arcaísmo, do poder do mito, do acaso das divindades[17] e da hierarquia imobilizante que impedia conhecer e acessar a verdade ou pretensamente buscá-la.

Mesmo nas narrativas bíblicas, a interpretação (hermenêutica) de verdade encontra-se na Filosofia. Aquele que a interpreta de forma alheia, com certeza incorrerá num erro crasso: o de cair no vazio.

Assim, é pela primeira vez que o homem formula interpretações da realidade cujos fundamentos não se encontram na tradição mítica e nos dizeres oraculares antes aceitos; funda-se na razão e na indagação em que o homem se lança fazer.

Incorreriam em erro as tradições religiosas que negassem tal preceito.

Assim

Nobre colega resumimos:

· a Filosofia nasce da convicção que não existem verdades humanas e universais que se põem acima de qualquer coisa, mesmo a dos mitos,

· os mitos, simploriamente, explicam um aspecto do mundo, uma ontogênese, uma história primordial,

· a busca da verdade filosófica significa, antes de mais nada, libertar-se dos conceitos pré determinados em uma cultura ou legados de forma que não propiciavam uma reflexão.

Portanto, procurem “sacar” as coisas do mundo, mesmo de seus estudos sempre de modo reflexivo, questionador, de buscar quebrar com determinados conceitos e idéias postas, aceitas sem questão. Quem sabe, num futuro próximo você não venha a ser um gênio da humanidade? E, até mesmo, descobrir coisas da Matemática que “antes desciam suavemente por seu cérebro, tranqüilas como um fim de tarde na praia de Itapoá, numa rede e só curtindo a natureza.”.

Então, “desperta tu que dormes”.

Sugestões culturais.

Findo mais um momento é hora de relaxar a massa cinzenta.

Pois bem, aludindo ao que está nesse pequeno resumo, indicamos a V.Sª. assistir:

Uma mente brilhante”, com Russel Crowe (aquele mesmo de “o Gladiador”) e observar a dita verdade que o sujeito buscava. Nota da redação: é uma estória verídica.

A trilha sonora que embalou esta digitação foi a do disco compacto “A night at Opera”, do Queen·[18].



[1] Pietismo ou a síndrome do coitado (coitado de mim, coitado de fulano, pobre cicrano, adeus beltrano...).

[2] Ver ELIADE, Mircea. “Mito e Realidade”. São Paulo. Ed. Perspectiva, 1995.

[3] Também muito clara na tradição bíblica, diga-se de passagem, no antigo testamento.

[4] Dar nome há quem, numa cultura, pode ter um outro nome que, na verdade não o é de forma universal.

[5] Conclusão feita pelo colega Allan Lachine Barros.

[6] Como sugestão, assistam aos filmes “Jasão e o velo de ouro”, “Fúria de titãs”.

[7] Leiam “A Ilíada” e “A Odisséia”, ambos de Homero, poeta grego.

[8] Recordem ao mito de Édipo e Jocasta aos quais, narrei em sala. Senão, peçam aos pais para contarem a novela “Mandala”, da Rede Bobo em que Édipo e Jocasta (no caso Felipe Camargo e Vera Fischer) foram vivenciados na televisão. Esta novela é de 1987/88.

[9] Um exemplo é o símbolo da Mitsubishi que é uma runa viking. Para quem gosta de Led Zeppelin, especialmente ao disco quatro (com o velho na capa), os símbolos dispostos são mitológicos, e até mesmo “Starway to Heaven” fala das vestais celtas. Nóis também tem curtura!

[10] Dogma é uma verdade de fé, inquestionável.

[11] Como o mito de Hércules e o da Via Láctea.

[12] Vale aqui uma ressalva: Sócrates por várias vezes aplicava o uso do mito para ilustrar suas reflexões. Exemplos podem ser bem vistos em “a República” e “o Banquete”, ambos de Platão, em que Sócrates recorre aos mitos de criação de Eros (no “Banquete”) e do estado (“República”).

[13] Aporia é o mesmo que dúvida, porém está em grego.

[14] Apologia é o mesmo que defesa

[15] O mesmo podemos referir ao julgamento e morte de Jesus Cristo, ao processo de independência da Índia por Gandhi, ao assassinato de Martin Luther King e por aí vai.

[16] Para quem saca de uma boa música nacional, também reflexiva, ouçam “Medo da Chuva”, de Raul Seixas e comparem com o que acima detalhamos.

[17] Lembre-se: o homem era um aríete dos deuses que, para provarem poder ter poder sobre “míseros” seres, impunha-os fardos pesados e árduas tarefas. Em contrapartida, gozariam do culto e devoção do povo. Poucos foram aqueles que puderam ser agraciados pelos deuses do Olimpo.

[18] Lançado em 1975 pela Emi. É disco essencial para os ouvidos mais refinados (como os de Roberta e Indira), pois mescla rock, opera vaudeville, música havaiana, temas existenciais e por aí vai. Encontrado nas melhores lojas do ramo. Da nossa parte, não emprestamos nem para cópia e nem para audição.

O CONCEITO DA FILOSOFIA

FILOSOFIA – o que é Filosofia?

Poderíamos dizer que filosofia é qualquer coisa de racional, e mais, é geradora de razão. Mas então o que é a razão? Esta seria mais uma problemática e tornaríamos a nossa (in)definição num ciclo vicioso. Então vamos anular a definição dada e vamos às origens mais profundas do termo. Todos nós sabemos, e já aqui foi referido que, Filosofia é um neologismo. Vamos então por a Filosofia a falar grego recuando alguns séculos:

Φιλο Σοφία (em grego)

Filo Sofia

Para explicarmos o conceito de filosofia temos de recuar cerca de 2500 anos. É que o conceito de filosofia é um neologismo devido à necessidade da formação da sua palavra. Ao contrário de hoje em dia, os primeiros pensadores eram livres. Num sentido metafórico, a filosofia de hoje é como uma “picada” cheia de minas: isto significa que a história da filosofia está repleta de pensamentos desde há 26 séculos atrás. Hoje, a nossa originalidade está condenada. Os primeiros filósofos não! Eram livres e portanto tinham ideias originais. Podiam construir palavras novas e dar-lhes o significado devido. O conceito filosofia é um desses casos.

No entanto note-se que, o conceito filosofia não aparece com o aparecimento do primeiro filósofo. Os primeiros filósofos nem sequer sabiam que eram filósofos, contudo depois pela sua actividade e pelo seu quotidiano (porque a filosofia vive-se) foram incluídos nesse núcleo e nesse estatuto que irradia o conceito de filosofia.

A filosofia nasce na Europa, que tem uma cultura da qual nos somos herdeiros. E isso, tem reflexos a vários níveis. Vejamos ao nível político: hoje encontrámo-nos na União Europeia, que exige para a sua adesão um determinado regime político – a democracia. Esta já era exercida pelos gregos em Atenas 5 séculos antes de Cristo.

Num sentido lato, o ocidente europeu é num certo sentido filosófico.

O que está na origem da filosofia?

Em sentido lato poderíamos dizer que a filosofia aparece com o objectivo de encontrar o sentido último das próprias coisas – a procura do ser das coisas através dos entes. Será que as coisas têm um sentido único ou têm um sentido fundo ou indeterminado? É na tentativa de resposta a estas questões que surge o conceito de filosofia.

Filosofia é o lançar o olhar sobre o objecto e manter esse objecto sobre mira, ou seja, praticar o assédio de alguma coisa através do olhar.

A FILOSOFIA, segundo este ponto de vista, pode ser entendida como:

à Theoria – o ver / olhar / contemplar / observar.

Simboliza assim o olhar com os olhos do espírito para os objectos intelectuais.

à Episteme – a apropriação e a pertença

Lançamos o olhar sobre algo e passamos a pretender ou a querer apropriarmo-nos de algo. Episteme significa o conhecimento de uma determinada ordem – de ordem teorética e não prática.

Filosofia significa assim uma certa forma de olhar com “olhos de ver”, significa o ficar para trás e passarmos a pretender algo no sentido da sua admiração, por isso vermos mais à frente que a filosofia significa um certo espanto.

Por isso é que entendemos a Filosofia como o amor, a querer pretender, o ter o desejo pela verdadeira Sabedoria, a verdadeira Sofia. No entanto, não é ter essa verdade, mas sim pretender, porque ainda não temos, apenas pretendemos. Pretendemos o quê? A sabedoria, que no seu sentido etimológico significa “não oculto”.

Por outro lado temos também de referir que a filosofia nasce de um certo bem-estar. Como refere Aristóteles, a filosofia é o culminar de um certo crescendo da qualidade de vida. Se fizermos uma cronologia percorrendo o caminho até chagar à filosofia temos de passar inicialmente pelas necessidades de subsistência – ninguém fará filosofia se não tiver as garantias mínimas de subsistência; depois encontramos segundo o autor as necessidades de embelezamento, e por fim um estado que nos permite uma certa paz de espírito, ou seja, fazer filosofia pressupõe uma série de garantias mínimas.

Para nos continuarmos a referir às questões e ao conceito de filosofia podemos ver também, a filosofia segundo alguns marcos importantes na constituição da sua história, como são Platão e Aristóteles: segundo eles, a Origem (ARCHÊ) da filosofia é devida ao Espanto ou Admiração (PATHOS).

O Archê pode significar também o domínio / exercício de poder; Pathos de um certo ponto de vista pode traduzir-se por paixão ou arrebatamento afectivo – pode também ser traduzido por sofrimento, suportação, resistência, etc.

Assim a filosofia nasce do espanto. De uma certa forma, espantámo-nos perante determinados factos. Mas a sua origem permite-nos não o seu abandono, mas sim a permanência, com vista à pertença.

Por outro lado teremos de analisar as condições que permitem a Filosofia nascer.

A filosofia nasce num certo espaço físico (concreto e palpável) – com determinados limites. Onde é? – Na Polis – cidade-estado. Podemos referir até que se não fosse este espaço fisco tão limitado a filosofia não teria nascido. Deste modo a Filosofia é filha legítima da cidade-estado, da Polis.

Mas o que é que há na Polis, que permitiu o nascimento da filosofia neste local e não, noutro, como por exemplo os vastos impérios existentes e espalhados naquela altura pelo mundo?

A polis da Grécia Antiga é caracterizada pela sua abertura do pensamento. O seu núcleo é a àgora, um espaço público onde se podem trocar ideias e opiniões livremente. Este facto contrasta como a forma de fazer sabedoria nas outras partes do mundo. Vejamos o exemplo das grandes civilizações e dos grandes impérios, como o Chinês, o Indiano, o Romano, etc. Aqui o saber, que apesar de milenar pertencia a um determinado tipo de agentes do saber. Eram os sábios (sophos). Na Polis não há sábios fixos de sabedoria. Os gregos não se consideram sábios de maneira a intitularem-se de sábios. Eles são antes pretendentes, amigos, candidatos e amantes da sabedoria – ainda não têm na mão a verdadeira Sofia. Eles têm assim uma enorme curiosidade e tentam descobrir partes diferentes, novas perspectivas através da própria observação, então, lançam-se como pretendentes. Contudo eles pretendem o quê? O que é a prática da Sofia?

Os filósofos criam assim um determinado número de conceitos, theorias, perspectivas, etc. com vista a uma melhor definição e compreensão do mundo. Este saber é público e só é possível devido à abertura cultural da Polis. É assim que nasce um combate saudável de ideias. Este combate de ideias nasce juntamente com os valores de igualdade entre todos os cidadão. Este sentimento de igualdade, de confrontação e de partilha de ideias é a origem das sociedade gregas e do nascimento da polis, que consequentemente viu nascer a filosofia. Esta exposição e confrontação de ideias perante toda a população é uma oposição às culturas das sociedades e imperiais onde o saber e o poder pertence ao Imperador. A cultura destas sociedades baseia-se nas relações entre o Imperador e os subjugados.

Vemos a este nível uma espectacular evolução da sociedade grega: a substituição da força bruta pela força da persuasão e dos argumentos.

Por outro lado, era aqui que se estabeleciam importantes relações entre mestre-discípulo. Estas relações permitem-nos observar uma outra característica desta sociedade: a necessidade de pretensa da verdade. Aristóteles refere: “Amigo de Platão, mas amigo da Verdade”. A relação mestre-discípulo era muito característica na antiguidade: aqui o conhecimento de uma doutrina passava do mestre para o discípulo. Contudo esta relação tomava uma importância acrescida quando os discípulos entravam em ruptura com os pontos de vista dos seus mestres, renunciando as suas opiniões em nome da sua própria verdade.

A filosofia reflecte a forma e o condicionalismo onde se insere. A filosofia é uma das manifestações de espírito (não a única) e manifesta-se devido aos seus condicionalismo e contextos onde se insere. Ex. estóicos e epicuristas reflectem uma certa forma de estar na sociedade e a filosofia é o espelho, de certa forma, da sociedade daquela época.

Na problemática da questão da filosofia, vemos que a filosofia não pode surgir apenas no sentido da interpretação mas sim da actuação, no sentido de influenciar e modificar o mundo. Exemplo nítido de Marx.

Apresentação

Sou um professor no liceu Nacional Kwame N'Krumah.
Dou aulas desde 1987.
Como gosto navegar, resolvi criar este blog para os meus alunos.