O MITO
RESUMO DAS AULAS DE FILOSOFIA PARA OS 1ºS ANOS – 2005.
O que é?
Podemos fazer uma série de conceitos (infindos) com a atividade de filosofar a saber :
. como um sinônimo de pensar, e que relativamente leva ao senso comum não obstante às situações de nosso ciclo natural (ato de nascer, ato de crescer, ato de morrer) e nossa existência que nos fazem superar o senso comum (muito embora ainda fiquemos no pietismo exagerado), mas não totalmente. Também nos leva a uma reflexão sobre o sentido da vida e das coisas.
Embora ainda carente de fundamentos e sua vaguidão, é passível de uma abrangência maior.
. como um sinônimo de saber viver virtuosamente. Neste sentido abrange o ato de filosofar como uma sabedoria. É muito comum nas culturas ditas orientais uma vez que, o sábio adquire respeitável posição na sociedade devido, não somente como guardião das tradições locais ou culturais de um povo, mas como uma instância maior de conhecimento dado numa cultura. É por ele que se zelam as tradições dadas,
. como um filosofar propriamente dito e que tem seu início na Grécia por volta dos séculos VI e V antes de Cristo e que passou à reflexão dada pela indagação da natureza e um olhar crítica às tradições, mitos e divindades deste povo antigo (e como a maioria dos povos da bacia mediterrânica).
É necessário saber que se ressalta a validade de um saber e de seus próprios conhecimentos, desmistificando a cultura como uma crença hereditária ou de fantasias criadas que impediam tirar o “véu de Maya” ou seja, propiciar ao homem o conhecimento.
O homem, desde o início, busca a verdade sobre as coisas e esta busca levava-o a superar os obstáculos “instransponíveis” da mitologia.
Muito embora os mitos dêem uma visão “simplista” das coisas e sobre uma determinada origem, não podemos desprezá-lo de todo para incorrermos no puro racionalismo. Tanto é fato que, Freud os utilizará para explicar a sua Psicanálise.
Assim, filosofar é questionar os fundamentos de uma cultura em busca de uma verdade, e nela o saber.
Entre o mito e a Filosofia.
Quando estudamos a História antiga (com os brilhantes professores Rita e Amarildo) vemos claramente o dito processo evolutivo do homem numa constante indeterminada que o levará sempre, a saber, mais do que já se conhecia em eras anteriores. No entanto, toda a forma de explicação da História , assim como de todas as demais ciências, são propriamente uma reflexão filosófica.
Na Antiguidade, principalmente à quem teve a oportunidade de assistir aos filmes “Tróia” e” Alexandre”, pode reconhecer elementos maiores que não são tratados na História, o que alguns dirão não serem importantes muito embora não sejam enriquecedores.
É neste mundo antigo que temos claramente a epopéia grandiosa dos homens que se lançam ao desconhecido, a desvendar os segredos da natureza e superar os obstáculos de uma sabedoria menor: a mitológica.
Toda cultura, ao dar início a sua origem, determina-a não de forma racional, precisa – recorre à alegoria dos mitos e para atestá-la como uma cultura heróica, determinada, conquistadora. Os deuses caminham com seu povo, numa superação clara dos obstáculos com o fim de levá-los aos píndaros da cultura. Na antiga Hélade, não poderia ser diferente.
Como berço da cultura ocidental, a Grécia gozava no seu apogeu (tanto econômico, social, artístico, cultural e político) de ser um povo de expressão elevada na bacia do Mediterrâneo (visto que, Roma ainda era um assentamento no Lácio, o Egito já encontrava no seu auge, a antiga Fenícia não se desenvolvia como um todo, Israel ainda nem pensava em sair do Egito, o império babilônico e os medas ficavam isolados no extremo leste do Oriente Médio) sendo um posto de passagem (devido aos portos em seu recortado litoral) comercial, via de regra, também cultural. Com isso, pode-se ter em conta que o desenvolvimento econômico caminhava equitativamente com o desenvolvimento da pólis grega.
No entanto, como a cultura politeísta dos tempos antigos, a Grécia também não ficava para trás. A sua extensa variedade de deuses e de seus heróis lendários, de certa forma, auriam-na de um passado glorioso e, ao mesmo passo que demonstravam que “aos homens só era possível conhecer algo que fosse determinado pelos deuses.” Prestem bastante atenção: não a um deus, mas a alguns deuses.
Portanto, é neste panorama que se desenvolve a narrativa mitológica, de certa forma fantástica e fantasiosa de que nada era possível além do Olimpo senão pelos deuses.
Assim, o conhecimento se resumia ao desconhecido e pela vontade dos deuses.
Mito
O mito é uma forma simbólica, simplória e fantasia de se narrar uma origem ou arché. Servem, a grosso modo, como forma de determina uma gênese sem uma racionalidade expressa, mais próxima do que hoje pode-se dizer gênero literário.
Como, efetivamente, ilustra uma narrativa peculiar e particular a uma determinada cultura, ele reflete em forma de metáfora um princípio desconhecido, intangível e que, neste sentido, pode-se nominar o inominável . Um exemplo: Zeus é criado a partir de Cronos. Cronos, na ânsia de manter-se eterno, devora seus filhos após criá-los. Zeus não quer se submeter ao ímpeto de Cronos e luta para ser posto novamente a vida. Este ciclo se renova a todo o instante não havendo um vencedor ou vencido.
Como contar isso de forma racional dentro da estrutura mitológica?
Cronos é o tempo, Zeus é um simples homem ao qual pressupõe-se uma finitude. O tempo constantemente devora ao homem e, este, constantemente quer manter-se além dele, ou seja, estar fora do tempo, de seu domínio. Esta esfera é a eternidade.
Logo,
“O homem procura ser eterno, mesmo que seja constantemente devorado pelo próprio tempo”
É o homem projetando-se na eternidade embora seja-o finito.
O mito também garantia as normas de vida comunitária numa determinada pólis.
Mito e Filosofia estão em busca de um mesmo ontós (origem do ser) e télos (fim) mesmo que por vias diferentes: uma no aspecto cultural metafórico e a outra pela via racional reflexiva.
Após um longo ciclo na história da Hélade, o mito constitui-se como uma fonte exclusiva de explicação para a existência do homem e da ordem cosmogônica do mundo. Este ganhou a aura maior quando fora transmitido como uma tradição oral (logo escrita) e narravam os feitos do povo grego (coisa similar pode ser vista em “Os lusíadas”, de Camões), mas apontavam duas coisas que são importantíssimas:
a) O destino dos homens era pré determinado: e só poderiam ser conhecidos pela força dos oráculos e seus sacerdotes. De forma alguma, o destino de um determinado indivíduo poderia ser modificado;
b) Os homens eram simples jogos nas mãos das divindades: ou seja, faziam aquilo que era determinado por eles. Sabia-se que as divindades gregas eram extremamente vaidosas e competiam entre si para terem mais atenção e devoção (culto) de um determinado povo. Se virem ao filme indicado no rodapé desta página verão claramente o que estamos falando.
Nobres colegas, como lembramos este ciclo fora quebrado no momento em que Tales de Mileto passou a indagar sobre a natureza das coisas, o princípio motor da vida e auferiu à Filosofia o caráter de investigação das coisas. Nota: além de matemático e físico, Tales assume o papel de primeiro filósofo na clareza da palavra.
Para se divertir aprendendo
Nem tudo é caneta e papel (ou apostila), é preciso também um momento de lucidez para dar clareza à massa cinzenta dentro de uma forma óssea conhecida como cabeça.
Portanto, nada mais simples do que ler, ver e ouvir.
Leiam o livro “o livro de ouro da Mitologia”, de Thomas Bulfinch (Ediouro). É um livro muito rico em histórias de mitos, todos com um detalhamento muito claro.
Nele teremos os mitos criacionistas gregos, hindus, chineses, normandos, celtas. Há muitos signos que usamos no nosso dia-a-dia que evocam aos mitos e tradições mitológicas.
Se desejar um livro “mais cabeça” leiam “mito e realidade”, de Mircea Eliade, constante no rodapé das primeiras páginas que servem para dar uma panorâmica do aspecto dos mitos na vida humana.
Para ouvir, além de “Stairway to Heaven”, há o disco “as aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor”, particularmente à música “as minas do rei Salomão”.
Como filmes, já os citamos e se o desejarem no gênero comédia, vejam “um fofoqueiro no céu”, de Mazaroppi (nacional). No gênero terrir (terror com riso) “o mestre dos desejos”, onde um djin (figura mitológica caldéia) fica aprisionada em um rubi por milhares de anos e promete saciar os desejos daquele que o libertar.
No mais, se o desejarem, troquem experiências de outros livros (menos Harry Porter e os de Paulo Coelho) e filmes (e músicas) para podermos construir um bom conhecimento).
Resumo das aulas três e quatro – Filosofia.
(compreendidas entre 01.03 até 08.03.05)
A autoridade do mito
Vimos que Mito e Filosofia são formas às quais o homem utiliza para explicar o mundo e visam responder aos questionamentos sobre o sentido da vida, o surgimento do universo e do homem, bem como as normas que garantem a vida em uma comunidade. Enumeramo-as:
a) Ao buscar explicações, seja pela linguagem do mito, seja pela linguagem filosófica, o homem está tentando estabelecer a estrutura de sua cultura,
b) Entre os gregos, a mitologia constitui a fonte de explicação exclusiva da existência do homem e a organização do mundo. As interpretações imaginárias criadas assumiram o caráter de autoridade por serem antigas.
Descrevemos os mitos como:
a) uma história religiosa, revelada com autoridade dogmática,
b) o passado é descrito como as tradições que não admitem crítica alguma,
c) narram uma história ab initio (no começo, desde o início),
d) narrar uma história sagrada equivale a revelar um mistério passado in illo tempore (naquele tempo),
e) suas personagens não são seres humanos, são heróis civilizadores ou deuses, seus feitos são heróicos e sobrehumanos dados ab origine (desde a origem),
f) uma vez revelado, o mito torna-se apodítico: funda a verdade absoluta.
g) o mito revelava uma expressão regional, cultural, particular, cristalização de interesses locais.
No entanto, o mito não dava respostas mais concretas às reflexões filosóficas e aos anseios do mesmo, portanto, era visto com certo desprezo pelos mesmos. O mito não propiciava as respostas sobre uma determinada ciência ou seu particular.
Com o surgimento da Filosofia e a reflexão a partir da razão tendeu os mitos caíram em um desuso, recuperado alguns séculos mais tarde pelo círculo positivista da escola de Viena.
Um novo conceito de verdade
Indira e Roberta, colegas inseparáveis do primeiro ano do colégio Salesiano, certa vez ao comentarem sobre música clássica e sobre as últimas boas músicas surgidas na praça, comentavam sobre W.A Mozart:
- Indira, aprendi a tocar a “Ronda alla turca” por completo. É fabuloso saber que, além de um clássico que exige uma destreza e apuro técnico sobrenatural, expressa uma clareza de tons e semitons, nuances totalmente diferentes ao tempo em que fora escrita, diz Roberta.
- Isso é verdade! Meu professor de Música me explicou que em Mozart, quando a escreveu, buscava a verdade do sentimento musical. Sabia que, já nesta época havia ingressado na maçonaria? Sabe o que ele buscava? A verdade das coisas replica Indira.
- Legal isso, né? Mas, veja só: qual é a verdade definitiva da música? Você pode me dizer? Todas as vezes que toco um “Noturno” de Chopin, uma “Serenata ao luar” de Beethoven, mesmo uma música mais bela como “Jesus alegria dos Homens” de Bach, sinto algo totalmente espontâneo, belo, sei lá, indizível. Mas quanto toco uma música popular, muito na mídia, pareço estar fazendo um esforço em que ela acabe logo, replica Roberta.
- É, será que existe uma verdade ou várias verdades? Diz Indira.
- Sei lá! O que interessa é que eu tenho a minha verdade, replica Roberta.
Isso é uma alegoria, uma conversa que poderia ter acontecido entre ambas colegas. No entanto, se isso realmente ocorreu, remontaram a um diálogo que ocorre há séculos e continua sem resposta.
O que é a verdade?
Será que existe uma verdade fundamental e universal?
Será que existem pseudo verdades, verdades absolutas, verdades dogmáticas, verdades relativas... então, todas são verdades.
Se você optou por seguir esta linha, como na propaganda da Fiat, “tá na hora de você rever seus conceitos”.
Existem verdades fundamentais que são inquestionáveis em determinados pontos, mas ao serem expressadas como respostas, claramente levarão ao engano e à aporia.
Aquele que diz possuir uma verdade universal pode estar se passando por um ”Edir Macedo” lhe prometendo uma vaga no céu.
Voltando aos antigos gregos, tinha-se por verdade (e o que era próprio da tradição) aquilo que era dito pela boca do oráculo, expresso pela vontade de um tirano, de um oligarca, um magistrado e de um sacerdote. Incorria num grave “pecado” ou ofensa àquele que fosse contra a douta verdade. Um caso clássico (e se lerem o livro “a apologia de Sócrates) é o do processo de Sócrates e de ir contra esta “aurida verdade” .
Contestar algo estabelecido e com autoridade constituída (como a “verdade”) significava, àquele tempo, ouvir a música do além.
Mas, detalhes a parte vamos ao que interessa.
Podemos, a partir de nossa visão, definir que o homem está em busca da verdade filosófica, ou seja, a que é incontestável, fundada numa razão elevada e que não encontra ponto de fuga algum. Esta procura libertar o homem da autoridade arbitrária da verdade imposta fazendo com que assuma a verdade conhecida e a transforme em uma meta de vida.
Usando de um aforismo bíblico, vemos que Jesus Cristo mostra que “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” reiteradas vezes apontando para o sentido de uma busca sincera não presa numa vontade/tradição imposta e que “amarrava” o homem.
Da mesma forma é a verdade filosófica: é uma busca natural do ser humano sobre o que, por que, para que o sentido de vida, mundo, relações, sociedades, finitude, eternidade, natureza e por aí vai.
A verdade procurada deveria constituir um conhecimento universal, válido (para todos) e necessário à humanidade. Deveria:
· ter validação universal, aceitação por todas as formas de manifestação humana nas mais várias culturas,
· manter-se independente das doutrinas e crenças “aprisionantes”,
· dissipar a autoridade mitológica e fantástica,
· romper com a insegurança e a minoridade do pensamento arcaico do ser humano ou seja, abrir os olhos dos homens para um novo conhecimento, rico, enriquecido e válido.
A Filosofia propunha libertar o homem do arcaísmo, do poder do mito, do acaso das divindades e da hierarquia imobilizante que impedia conhecer e acessar a verdade ou pretensamente buscá-la.
Mesmo nas narrativas bíblicas, a interpretação (hermenêutica) de verdade encontra-se na Filosofia. Aquele que a interpreta de forma alheia, com certeza incorrerá num erro crasso: o de cair no vazio.
Assim, é pela primeira vez que o homem formula interpretações da realidade cujos fundamentos não se encontram na tradição mítica e nos dizeres oraculares antes aceitos; funda-se na razão e na indagação em que o homem se lança fazer.
Incorreriam em erro as tradições religiosas que negassem tal preceito.
Assim
Nobre colega resumimos:
· a Filosofia nasce da convicção que não existem verdades humanas e universais que se põem acima de qualquer coisa, mesmo a dos mitos,
· os mitos, simploriamente, explicam um aspecto do mundo, uma ontogênese, uma história primordial,
· a busca da verdade filosófica significa, antes de mais nada, libertar-se dos conceitos pré determinados em uma cultura ou legados de forma que não propiciavam uma reflexão.
Portanto, procurem “sacar” as coisas do mundo, mesmo de seus estudos sempre de modo reflexivo, questionador, de buscar quebrar com determinados conceitos e idéias postas, aceitas sem questão. Quem sabe, num futuro próximo você não venha a ser um gênio da humanidade? E, até mesmo, descobrir coisas da Matemática que “antes desciam suavemente por seu cérebro, tranqüilas como um fim de tarde na praia de Itapoá, numa rede e só curtindo a natureza.”.
Então, “desperta tu que dormes”.
Sugestões culturais.
Findo mais um momento é hora de relaxar a massa cinzenta.
Pois bem, aludindo ao que está nesse pequeno resumo, indicamos a V.Sª. assistir:
“Uma mente brilhante”, com Russel Crowe (aquele mesmo de “o Gladiador”) e observar a dita verdade que o sujeito buscava. Nota da redação: é uma estória verídica.
A trilha sonora que embalou esta digitação foi a do disco compacto “A night at Opera”, do Queen.